Thursday, 17 September 2009

diferença e repetição

O Luis duVa, que junto com Marcia Derraik é um dos idealizadores da Mostra Live Cinema, me apresentou ao trabalho do Alexandre Carvalho, “Fluidos”, que será exibido na Mostra Novos Rumos do Festival do Rio juntamente com o longa da Christiane Jatahy, “A falta que nos move”, entre outros títulos. Estou bastante curiosa para assistir a ambos, experiências radicais de encenação audiovisual em tempo real, cada um à sua maneira. O trabalho da Chris ainda terei a oportunidade de comentar por aqui, no momento me atenho ao projeto de Alexandre.

A interessante proposta de Alexandre possui, como duVa sugere, alguns pontos em comum com o trabalho que eu apresentei na Mostra Live Cinema do ano passado, Cabine de Pensamentos, sobretudo no que se refere à utilização de um sistema de televisão para transmissão de imagens ao vivo para uma sala de cinema. Me agrada bastante a idéia de que o filme só existe no momento da projeção e não está capturado por nenhum suporte, o que o aproxima do teatro e o coloca sob o risco do real – espaço e tempo.

Outro aspecto comum e a meu ver determinante em “Fluidos”: trata-se de uma intervenção urbana. Não é só o tempo 'ao vivo' que está em jogo. É um cinema que ocupa um espaço geográfico – e herziano - determinado, e como o próprio diretor explica: é o dispositivo criado que dita as locações e o alcance da transmissão – um cinema do lugar. A preocupação do realizador de desenvolver a dramaturgia a partir de um mapeamento do cotidiano de uma região me parece um dos pontos fortes do projeto, tornando-o site specific: um cinema que territorializa, audiovisualmente, um espaço. Gosto da idéia.

Contudo, se em minha proposta de curta-metragem a intenção era desconstruir ou confrontar a linguagem do cinema narrativo por meio de sua apropriacão pelo dispositivo de vídeo-vigilância, no trabalho de Alexandre, a julgar pelo texto de apresentação em seu blog, a aposta parece ser utilizar a transmissão de televisão para fazer um longa-metragem narrativo, com inspiração no Dogma 95, como Alexandre afirma, mas afinado com uma idéia de cinema clássico : “personagens, plots, cenas, planos, cenários, figurinos, fotografia, som direto, montagem, tal qual qualquer narrativa cinematográfica.”

Interessante notar que os personagens de seu filme definem-se por sua relação com dispositivos tecnológicos, o que os situa em um imaginário contemporâneo atravessado por apelos midiáticos, o que considero uma marca particular, mas o trailer filia-se a um padrão americano de oferta de drama que eu só consigo conceber como paródia.

Outro ponto de diferença: enquanto Alexandre afirma que o naturalismo é a base de seu filme, eu me colocaria na direção inversa, uma vez que são os processos de ficcionalização que orientam a minha pesquisa.

Infelizmente não assisti às exibições ao vivo em SP, e a sessão no Rio será um playback, mas como o duVa sugere que façamos um debate sobre nossos projetos vou ter a oportunidade de conhecer melhor o "cinevivo" e tirar estas dúvidas.

Um dado que me chamou a atenção no blog do projeto foi o anúncio de “todos os direitos reservados” logo abaixo do nome da produtora ASC. Fiquei intrigada, pois, uma vez que estamos falando de uma peça que é executada em espaço público e que se afirma como aberta a interaçoes que por ventura possam ocorrer por conta desta característica, fica complicado falar em reserva de direitos , seja direito de imagem de pessoas e lugares, seja o proprio direito sobre a transmissão de televisão – em que frequencia a plataforma cinevivo opera? É paga ou pública? Pode ser captada por canal UHF?

Isto me leva a pensar o trabalho do Bruno Vianna, outro artista de cinema ao vivo que investe em um pensamento de cultura colaborativa, de copyleft, de software livre. Acredito que quando estamos falando de ocupação de espaços publicos, de expansão de novas palataformas de exibição, transmissão e colaboração devemos estar atentos a um novo pensamento para direitos, acesso e troca.

1 comment:

paoleb said...

critica valente: http://www.revistacinetica.com.br/fluidos.htm