Tuesday, 13 May 2008

I am there

Lendo sobre o trabalho de Dan Graham no completíssimo catálogo que Andre Parente mui gentilmente me emprestou, deparei-me com uma performance que de alguma forma se assemelha a um exercício que propus à turma de direção de atuação há um mês.
O exercício, de imaginação e observação, consiste em criar uma biografia inventada para um colega. Este colega deve então ir para a frente da turma, e a biografia, que ele desconhece, é lida em voz alta para todos. A turma deve então observar cada gesto que o biografado esboça ao ouvir a narrativa e todos devem anotar este repertório de gestos. Em um segundo momento este repertório de gestos é lido, e mais uma vez observa-se as reações do biografado ao ouvir as reações que teve ao ouvir a biografia. O jogo pode continuar ad infinitum.
Este exercício foi muito revelador sobre significados e mistérios de microgestos e reações, espontâneas ou caricaturais, programadas ou inevitáveis e saímos todos bastante mexidos da aula naquela terça-feira. Agradeço a atriz Mariana Lima, quem me passou este exercício.

Na performance Performer / Audience Sequence, Dan Graham, de pé, diante de uma platéia sentada diante de um espelho, descreve por 8 minutos seus próprios gestos, para nos próximos 8 minutos descrever os movimentos da platéia que o ouve, para voltar para si nos 8 minutos seguintes, e assim sucessivamente, num jogo de espelhos que não tem final pré-determinado.
Nas palavras do artista:"When I am looking at the audience and describing myself, I am looking at them to help me see myself as I might be reflected in their responses (...) by the second stage of my self-description I (my idea or projection of "myself") am becoming more influenced or 'contamined' by my impressions of the reactions of the audience".
Há ainda uma observação interessante a fazer sobre a percepção do tempo neste trabalho. Uma vez que a descrição enunciada refere-se inevitavelmente a uma observação de um momento que já passou, o discurso está sempre em atraso em relação ao presente vivido na performance. No espelho reflete-se o tempo real, mas na fala que descreve a imagem que o espelho reflete há um delay incontornável. Nas palavras de Thierry de Duve, que assina o texto do catálogo:
"(...) the now in wich the performer describes the audience (or himself) cannot be the now in wich the audience receives its description. The audience is always too early relative to the self image that the performer reverberates back to it, and the performer is always too late relative to the image of the audience he is about to describe. The enunciation is performative, it creates the event of wich it seeks to give an account. But it does not give an account of the event it creates, or only belatedly, rushing afetr it in a circuit of retroaction that leaves no room for 'lived experience'.

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