ontem vendo tv

1 - no noticiário das 22h, no SBT: um torcedor do flamengo foi espancado até ficar em estado muito grave, após um jogo de basquete. no saguão do hospital, um de seus amigos deu uma declaração ao jornalista dizendo que a vítima era uma pessoa pacata, que não merecia o ocorrido. corta para o estúdio, onde o apresentador continua a matéria:"não é o que demonstra sua página em um site de relacionamentos..." corta para uma imagem da página do acidentado no orkut, com divulgação de conteúdo agressivo contra vascaínos... o sujeito está na UTI, entre a vida e a morte, tendo sua integridade questionada via orkut em cadeia nacional... strange...

2 - toda a publicidade do intervalo comercial descontruía a imagem como algo já dado , algo a priori. me pareceu que nós, teóricos, muitas vezes vamos ao cinema moderno, ao documentário ou à arte contemporânea para colocar o dispositivo em questão, mas hoje, em qq canal de tv, em qq propaganda B de inseticida ou cerveja, temos o casting falando para a câmera, as logomarcas do produto interagindo com o elenco, a "assinatura" emergindo nas ações e uma série de procedimentos que chamam a atenção do espectador o tempo todo para o fato de que o que vê é uma construção visual, e não a realidade enquanto tal. parece que uma certa crítica da representação não encontra mais respaldo nestas imagens, que se afirmam sem parar como simulacros, nem um pouco preocupadas em escamotear este fato... Uma nova transparência da opacidade, que se reflete sobre si mesma para efetuar com eficácia a venda de produtos.

3 - começamos a assitir ao dvd do desenho animado. antes de entrar o menu, um grupo de vaquinhas olha para nós, espectadores, reclamando que estamos invadindo sua privacidade. uma delas vem até o primeiro plano e toc toc, bate na "lente" da câmera, mandando a gente embora. depois disto, fiquei pensando em como falar hoje em pan optismo, vigilância global, transparência e opacidade. figurinhas fáceis no mercadão de imagens. problematizar estas questões a partir do caldão da tv chulé é que são elas; não tem que ir em cao guimarães, bruce nauman, ou outras elites do pensamento da imagem. tem que partir do jornal do sbt mesmo, e do dvd da disney pra ver como é que é.