Tokyo Ga – Carnet de Voyage 1983
Cruzamento entre o filme de Wenders e a leitura de Barthes, descontínua.
Wenders:
Para quê produzir imagens? - possíveis respostas : para aprender sobre si mesmo; para se reconhecer.
Constatação: Imagens tornaram-se corporificação da memória; crudificação da memória ou ainda a numerização da memória, memória inFORMAtizada; memória-imagem (forma, Bild).
Tome-se as imagens de um filme qualquer, quando observadas sem som, no avião, descoladas, soltas ao olhar, sem querer significar nada, imagens ocas (óticas e sonoras puras) op signes et son signes - imagem observacional.
a view that still could achieve order in a world without order
(Buscar ordem é um movimento de retorno às origens; uma tentativa de escapar à homogeneização crescente que é inevitavelmente fonte de desordem - não se pode ordenar o que é homogêneo, só de pode ordenar o que é heterogêneo; heterogeneidade se alinha com ordenação ao passo que homogeneidade com desordenamento, ao contrário do que se poderia supor ao buscar agenciar estes conceitos em pares associados.
Ou seja: um olho diferenciado, heterogêneo - e não um olhar homogeneizado, desORGANizado torna-se desejável nesta lógica)
Barthes:
aucune envie d’assurer mon moi, pour me constituer centre assimilateur de l’infini. Amené à l’evidence d’une limite vide, je suis illimité sans idée de grandeur, sans réference métaphysique.
(pg 145)
Les yeux, et non pas le regard. La fente, et non pas l’âme.
(pg 146)
Wenders:
Colocar a realidade em imagem assim - depicture - não existe mais;
(Nostalgia de um mundo onde as imagens pudessem ser autênticas. Mas esta idéia de deixar o mundo transparente fala de um lugar desde o qual a opacidade é vista em sua negatividade)
Barthes:
"L'impolitesse (a falta de refinamento), no Ocidente, repousa sobre uma certa mitologia da "pessoa". topologicamente, o homem ocidental é reputado como duplo, composto de um "exterior", social, factício, falso, e de um "interior", pessoal, autêntico (lugar de comunicação divina)
(...)
ser impoli (rude) é ser verdadeiro, diz logicamente a moral ocidental."
(Herzog quer ir para o espaço atrás destas imagens verdadeiras;
Wenders vai buscar esta verdade lá no turbilhão visual, como Marker :
- Quanto mais olhamos a televisão japonesa mais somos vistos por ela - txt de Sans Soleil, tb de 1983.
Não é à toa que Wenders encontra Chris Marker em Tokyo)
Wenders:
Imagens capazes de revelar algo;
(Mas me pergunto: há algo para além desta imagem?)
Barthes:
Espaço não de uma vista, mas de um fazer ou de um jogo.
Produzir um lugar para então dizer que ele está vazio - as imagens de video vigilância produzem esta ausência; ou melhor esta expectativa de uma cena , instaurada, aonde algo se dará a ver, pois o que está em jogo é, mais do que VER algo, é ver se há algo a ser visto; ante-ver; super-visão, super-visionar.
O interstício ; o não lugar: MU, o vazio.
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