Saturday, 3 December 2011

Desconferência Cultura Digital

Sou Professora de Audiovisual, dou aula para alunos da Rede Pública em uma escola especial que é o NAVE, mas também dou cursos livres como o de Narrativas Digitais que estamos concluindo na Biblioteca Parque de Manguinhos, ou o Curso “Outros Cinemas” que ofereci na Escola de Cinema Darcy Ribeiro, entre outros.

Algo que percebo muito claramente é que, diferente do mundo em que eu comecei a estudar cinema, há 25 anos, as novas gerações tem uma familiaridade muito naturalizada com os meios audiovisuais, não apenas como espectadores, mas de alguma forma como operadores. Já se tornou lugar comum falar de como o acesso a informação e as ferramentas de produção e edição de imagens está revolucionando a forma como assistimos e realizamos filmes. Quase todo mundo tem um celular que capta imagens, bem ou mal todos estão habituados com a navegação na web, para ter um canal no youtube basta ter uma conta de e-mail... de alguma forma o compartilhamento desta rede de significados se dá em diversas esferas.

O desafio de se colocar como Professor neste cenário é gigantesco. Comecei uma vez uma aula falando sobre câmera subjetiva e os alunos não estavam entendendo, depois de um tempo um deles me disse, ah, isso ?!! É como jogar em primeira pessoa no vídeo game! Pois é como não pensei nisso antes.

A cultura dos games, super presente no cotidiano da garotada, incita a uma experiência de hiper visualidade, onde podemos girar voltar congelar avançar retroceder, enfim, um modo de navegação da imagem que serve para ilustração de qualquer posição de câmera de uma decupagem!

Vejo meu filho de 9 anos que navega com desenvoltura pelas ruas mapeadas pelo Google Street View realizando travellings e panorâmicas incríveis. Neste cenário, dar “aula” de cinema é um desafio.

Fundamental incorporar estas novas ferramentas ao aprendizado. Com os alunos vamos aprendendo juntos, acho muito sutil e sensível que em francês o verbo aprender, apprendre, possa ser utilizado tanto no sentido de aprender: j’apprends como no sentido de ensinar je t’apprends quelque chose. Eu aprendo, eu te aprendo, eu aprendo com você, você aprende comigo, eu te ensino, você me ensina a ensinar, eu te ensino a aprender...

Pensando desta forma e neste contexto contemporâneo, as vezes e difícil lidar com as estruturas da instituição escolar, as avaliações bimestrais, as provas e todo o aparato da escola. A escola está em crise não nos cansamos de repetir. O formato da sala de aula, o professor na frente, o quadro... Difícil. Professor como pólo irradiador do conhecimento? Tenho 30 alunos em sala, um deles me pede uma informação sobre um software que eu desconheço, estamos no laboratório, ele caça um tutorial na web e em 10 minutos ele está explicando para a turma e estamos todos juntos aprendendo. Para alguns este momento de transição é uma momento de pânico e perda de “autoridade” - pois o que irá nos diferenciar, professores e alunos? Lembro aqui do mestre ignorante:

No método emancipador pode-se ensinar qualquer coisa, mesmo sendo ignorante no assunto. Mas, para isso, é necessário emancipar o aluno, ou seja, fazer com que o aluno aprenda sozinho, usando apenas sua própria inteligência. E este seria o Ensino Universal. Conseqüentemente, pode-se também aprender qualquer coisa. Já no método embrutecedor, o da explicação, o mestre mantém-se distante do aprendiz, pois transmite um conhecimento em partes e o aluno terá de esperar para aprender mais no ano seguinte, deixando o professor num grau sempre superior ao do aluno.

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