Tuesday 5 April 2011

Alquimia da velocidade

Duas ou três coisas sobre o filme de Artur Omar:

Primeiro: porque só tem legendas para as falas em inglês e não para as falas em dari?

Segundo o próprio AO, porque o inglês é o significado, o poema precisa ser compreendido, e o dari é o significante, é a sonoridade do idioma, e não o que é dito o que está em jogo.
Pergunto: mas e quem sabe dari?
AO: é, quem sabe dari vai entender.

Uma língua é sempre significado e significante, este par não se desassocia simplesmente pela presença de uma legenda. Inglês também é sonoridade, a fleuma de Alec Guiness, para além do que ele diz, é também significante.

E o dari é também significado, nós é que somos ignorantes para ele - e aqui me recordo de JLG, se não me engano em Vladimir e Rosa: "você sabe tcheco? Então é bom aprender, porque a partir de agora o filme vai ser sem legendas."

A meu ver seria mais radical não ter legenda alguma. Até porque as legendas são, elas também, significados e significantes. Traduzem o texto mas se inscrevem na tela, são uma intervenção gráfica sobre a imagem.

Lembrando que temos 04 tipos possíveis de espectador (independente de suas nacionalidades):

os que entendem inglês e dari
os que entendem inglês mas não entendem dari
os que não entendem inglês, mas entendem dari
os que não entendem nem inglês e nem dari

(Lembrando ainda que há ainda os que são surdos e precisam de legendas, mas no mesmo idioma da fala, para "ouvir" o que está sendo enunciado.)

Em suma: para mim não faz sentido presença de legendas em outro idioma - no nosso caso o português.

Segundo: porquê não há crédito para o som no início da fita? Há crédito para Direção, Fotografia e Edição. Não há crédito para som, mas o som é o filme tanto quanto as palavras escritas e as imagens mostradas.

Tive a oportunidade de expressar estes pontos para AO, graças à querida Ivana.
Foi aí que me dei conta do terceiro ponto, mais prosaico que os dois anteriores: Artur Omar é um nome duplo, tipo Pedro Paulo, como explicou a Ivana. ;-)

Em tempo: Os Cavalos de Goethe é experiência sensorial, filme expelimental, pra usar o conceito que ouvi uma vez do próprio AO, em debate no CCBB, século passado. Nunca esqueci.
Merci AO. Vejam o filme.

Os Cavalos de Goethe

PROGRAMAS ESPECIAIS

ARTHUR OMAR

BRASIL - RJ / BRAZIL - RJ

70', cor, BETA DIGITAL, 2011

Diálogos: DIÁLOGOS EM PORTUGUÊS E INGLÊS / PORTUGUESE AND ENGLISH DIALOGUES

Legenda: LEGENDAS EM PORTUGUÊS / PORTUGUESE SUBTITLES


  • CINE LIVRARIA CULTURA (SÃO PAULO - SP): 03/04 - 19H00M
  • CINEMATECA (SÃO PAULO - SP): 10/04 - 14H00M
  • CCBB (RIO DE JANEIRO - RJ): 06/04 - 14H00M
  • UNIBANCO ARTEPLEX (RIO DE JANEIRO - RJ): 05/04 - 19H00M

Um documentário experimental contendo cavalos, homens e uma imagem da guerra encarnada em quadros que se movem aos milímetros. Combates entre cavaleiros suspensos no tempo, filmados no Afeganistão em 2002. Através de um prisma, a teoria das cores de Goethe informa sobre a relação entre luz e escuridão, entre a história e o esquecimento, entre a morte e a resistência do instante. O olho do espectador é chamado ao tribunal da percepção histórica.

R: ARTHUR OMAR | DF: ARTHUR OMAR | C: ARTHUR OMAR | SD: ARTHUR OMAR | M: EVÂNGELO GASOS, ANA DANTAS | Mu: ARTHUR OMAR, QUARTETO 2 DE MORTON FELDMAN | Es: ARTHUR OMAR | P: ARTHUR OMAR | PE: ARTHUR OMAR | CP: CORTEX DIGITAL |

2 comments:

paoleb said...

texto sobre o filme por carlinhos albertinho de mattinhos: http://carmattos.wordpress.com/2011/04/05/muybridge-barbaro/

Anonymous said...

Olá...estava a procura de link para assistir na web, pois fiquei sabendo do video agorinha...