Wednesday 29 December 2010

JLG Forever

Fomos assistir a Film Socialism ontem, no Estação Laura Alvim.
Profusão de texturas da imagem.
Liberdade com o cinema.
"Linguagem Cinematográfica" - o quê é isso? Na sala com Godard parece que estamos juntos nos fazendo esta pergunta. Se é um mundo saturado por câmeras e telas, é isto que este filme nos oferta. Um cruzeiro, em toda sua loucura kitsch de espelhos, laqueados, luzes piscantes. Os planos por vezes são muito curtos, e é curioso que imprimam de maneira tão marcante - como os poucos segundos de uma missa realizada em um ambiente que parece o cassino do navio. Tudo é tão surreal. A imagem do dinheiro sendo "arado" e das máquinas de caça níqueis sendo manipuladas em contra luz com o oceano ao fundo. Imagens fortes, é uma força cinética quase. Em alguns momentos a montagem fica estroboscópica. É gente dançando, pulando, pista de dança, buffet, elevador, tela de tv, cascata de camarão, campari...
De repente o filme muda de tônus, se concentra em um posto de gasolina de beira de estrada, e o som dominante do vento do mar se torna o som dominante dos carros a passar.
O som. O som em Godard. Ouvindo este filme a gente pensa: como é pobre o investimento em som no cinema. Mais uma vez nos colocamos a pergunta: o que é a linguagem? O estado de gagueira fundamental enunciado por Deleuze ganha com JLG expressão literal.
Gostoso ouvir o som do vento batendo no microfone. Um som que se convencionou como desagradável, inadequado, errado. E quando este som continua sobre a imagem de um vídeo com baixa resolução, o ruído do vento parece sincronizado com o ruído da imagem, é sensacional. Ondas de som e imagem juntas.
Observacão e reflexão: folheando um livro, uma revista, zapeando, navegando na internet, conversando, escovando os dentes, cantando, lavando pratos.
Aquela dose de absurdo de sempre, o humor, a loucurinha, a liberdade.
E os personagens na sombra, que fotografia lhenda, a pele negra de bikini sob um sol em alto contraste, os rostos sempre à sombra, a não-necessidade de estarem todos vistos, o mistério na imagem, tudo ali, tão bom.
E as luzes se acendem, e todos na sala naquele torpor, difícil levantar da cadeira. Não parece um, parecem vários filmes que se entrecruzam criando uma louca polifonia dissonante.
Viva 2011!

1 comment:

paoleb said...

http://www.jeudepaume.org/index.php?page=article&sousmenu=18&idArt=1410&lieu=1