Monday 13 December 2010

Apontamentos de Live Cinema #1

Terra Nova: Sinfonia Antártica - DJ Spooky

O artista se apresenta no centro do palco, acompanhado por uma pianista à esquerda e um trio de cordas à direita. Suspensas, formando um angulo de 90 º atrás dos músicos, duas grandes telas.

As relações que se estabelecem entre estas telas são tão ou mais interessantes do que as imagens que exibem. Torna-se uma música à parte, ou uma dança, as dinâmicas que se criam nestas relações possíveis, que oscilam entre contraposição e contigüidade.

As telas hora se espelham, como em uma pintura produzida por um jato de tinta que jorra em direções opostas a partir de um mesmo centro; hora se duplicam, criando um efeito de redundância, onde um padrão se repete, aqui e ali; hora se complementam, exibindo fragmentos de uma única imagem que começa em uma e continua na outra.

Imagens de paisagens da Antártida, blocos imensos de gelo, placas que deslizam a um só tempo pesadas e leves sucedem-se ao som de uma música que soa quase romântica. As cordas atacam e silenciam, e quando voltam a preencher a sala não são os músicos que tocam, mas o DJ, que reproduz uma gravação do som que acabamos de ouvir, agora processado, manipulado, reinterpretado. Impressionante.

Um voil em primeiro plano sobe e desce marcando o início de cada ato da peça, e colabora com a criação de uma profundidade construída por planos bidimensionais, que se sobrepõem criando uma imagem sólida, mas frágil, como um bloco de gelo.

A imagem na tela se apresenta como um plano, uma malha de pontos, que se torce e coloca em perspectiva, um plano bidimensional que navega por um universo tridimensional, em camadas, mil folhas de cinema.

Por fim, lindas imagens documentais de expedições realizadas no continente em tempos distantes; pioneiros russos, chineses, americanos. Disputas em torno do território, discussões políticas, geográficas, ambientais. Mil folhas de cinema.

Espetáculo denso, belo e complexo.

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