Tuesday, 29 June 2010

Message in a bottle

Recordo-vos o início do texto de Mathias no programa que versa assim: "onde há imagens, há supressão".

A linguagem das imagens: desde o início do processo criativo foram sendo criadas e recuperadas imagens (tanto pelo registo fotográfico como pelo registo vídeo) do desenrolar do trabalho (leituras, ensaios, trabalho de movimento-corpo, provas de figurino, chegada de objectos cénicos, etc). O registo vídeo dos ensaios, simplificou o registo das inadvertidas e genuínas interlocuções conseguidas pelas indómitas improvisações. Foi ainda criada uma instalação, nas divisões da sede da Cia dos Atores, com todas as imagens recolhidas das propostas iniciais dos directores-actores-criadores. Esta instalação permanece...

As projecções vídeo sempre estiveram no horizonte da construção da linguagem do espectáculo, porém, as prioridades como o domínio do texto completamente reestruturado, o jogo acidentado que esse mesmo texto convocava, as questões e opções cénicas foram compulsivamente tomando a frente das prioridades. Foi convocada a parceria com a criadora de vídeo e sendo feitas breves experiências de introdução de imagens em vários suportes em cena, mas tudo sempre ultrapassava o vídeo; não que ele se apresentasse dispensável, mas simplesmente não era o momento ou a urgência. Era uma quase, repito quase, supressão.

Quase, porque afinal a instalação-limbo do espectador pela qual, em tempo próprio e particular, optámos é um fenómeno curioso neste processo de criação: sempre foi desejado, mas nunca se consolidou sob os auspícios da eventual supressão; este facto, quanto a mim, justifica-se por uma vida própria que o vídeo exerce neste trabalho; o vídeo não aparece como comentário, não é ilustração de nada, muito menos desnecessário; o vídeo surge neste espectáculo, que assumidamente joga com as várias convenções de jogo e de estética teatral, como host e cicerone a toda uma experiência sensorial da qual o espectador fruirá; o vídeo, ao meu sentir, é a poção intravenal contrastante que o espectador terá de se administrar (ou não!) para que, uma vez na desarmante máquina de tomografia que é o espectáculo, possa redescobrir as ressonâncias em si do que testemunha na sala.

Eu posso fazer uma tomografia, mas sem solução contrastante não tenho definição na imagem final e as piores doenças podem permanecer. O vídeo pode preparar, potenciar e predispor o público à DEVASSA feita de sucessivas perguntas, referências e reconstituições; o vídeo faz do público um agente de inquirição ao assistir à investigação que em cena acontece; o vídeo reproduz fractalmente a repetição, resgata amnésias outras e favorece as perguntas fortes, aquelas que ficaram por fazer, aquelas que a proposta deste espectáculo legitimamente não contemplou e/ou desconsiderou, aquelas únicas perguntas que só o corpo em desastrada aporia sabe formular...

Pois que venha o vídeo porque eu estou a necessitar de um diagnóstico... ao meu coma emocional.

Berta Teixeira

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