As câmeras de vigilância proliferam-se nos espaços públicos e privados, e a retórica que justifica sua presença e disseminação baseia-se numa cultura do medo, da paranóia e da insegurança.
Este discurso de suspeita generalizada intensificou-se após os ataques terroristas de 11 de setembro e propõe que as câmeras atuem como dispositivos de segregação e discriminação, atentando contra as liberdades civis, a privacidade individual e a dimensão simbólica do espaço público, que de espaço de convivência e comunhão passa a espaço de normatização e controle.
A proposta deste trabalho é reverter este papel desempenhado pelas câmeras de vigilância, retirando as imagens captadas da sala de controle e projetando-as na sala de cinema, no teatro, na galeria.
Ao aliar improvisação teatral, vídeo instalação e edição ao vivo, trazemos as imagens produzidas pelos circuitos de segurança para o terreno da experimentação artística, esvaziando a função de monitoração das câmeras e potencializando-as como catalizadores de experiências estéticas.
Hoje, qualquer cidadão habituado a assistir filmes , vídeos e televisão, uma vez confrontado com imagens produzidas por estes circuitos põe-se a fabular sobre o que acontece diante das câmeras. Projetando estórias sobre os que passam – “este aí, o que leva na bolsa”; “aquela lá, espera por quem”; “este ao telefone, sobre o que estará a falar”, etc. – o espectador está lidando ativamente com o impulso – ou a compulsão - por histórias, que mobilizam nosso olhar e nossa atenção diante das imagens e que são justamente a base sobre a qual se assenta a chamada narrativa áudio-visual clássica. A maneira como aprendemos a ‘seguir’ as imagens exige que coloquemos em prática noções de montagem paralela, contigüidade espacial, continuidade temporal, relações de causalidade, etc.
Quando oferecemos as imagens das câmeras de vigilância como espetáculo, estamos convidando os espectadores a entrarem neste jogo aonde é a sua própria capacidade especulativa, baseada nos cânones do cinema, que está em cena.
Associamos às imagens projetadas sons diversos que são executados na hora da projeção por um DJ. Estes sons podem ser comentários realizados ao vivo no microfone, trechos de filmes célebres, temas musicais, efeitos sonoros ou ruídos. Assim, perfomers e público colaboram na construção narrativa, que forçosamente se cria por meio da fusão do imaginário áudio-visual coletivo e dos acontecimentos ocorridos em tempo real diante das câmeras. Jogando com códigos do cinema, personagens arquetípicos, memória e história, colocamos em xeque a própria funcionalização das imagens - que nos circuitos de vídeo que gravam incessantemente, na maioria das vezes não possuem função alguma – criando um jogo de construções e desconstruções onde nada é o que parece.
Tuesday, 28 October 2008
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