Friday, 22 August 2008

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1 comment:

paoleb said...

RESUMO DO ARGUMENTO

Estamos no final do mês de março de 1984, viajando entre as cidades de Angra dos Reis e Rio de Janeiro. Este trajeto cansativo – são praticamente 3 horas de viagem – é feito por Alexandre toda semana, às vezes à noite, às vezes ida e volta em um mesmo dia.
Alexandre é engenheiro nuclear e tem 42 anos. Altamente dedicado ao projeto nuclear brasileiro, veste a camisa por amor à ciência. Quando terminou a faculdade no início dos anos 70, aluno brilhante, já tinha várias opções de emprego. Juntamente com um seleto grupo de cientistas participou de um treinamento na Alemanha Ocidental, em 1976, parte do acordo bilateral entre os dois governos. Voltado para o futuro, antecipa a construção de mais 3 Usinas no país até o ano 2000. Depois de viver 2 anos na Europa e passar os últimos 5 anos dividido entre as cidades do Rio e de Angra, vai finalmente morar com a esposa Cleo em Angra.
Sua vida gira em torno na Usina Nuclear. Seus interesses, seus amigos, seu ócio e seu negócio têm a ver com a pesquisa atômica. A capacidade de abstração, que é uma qualidade científica memorável, torna-o um adorável excêntrico.
Em Angra Alexandre se hospeda em um dos apartamentos-padrão oferecidos aos funcionários classe “A” como ele. A vila de Praia Brava oferece ainda além das casas A, as casas B, um restaurante, um clube, um cinema e um hotel.
Alexandre logo terá sua própria casa em Angra. E passará mais tempo dedicado à Usina, que entrará em operação, após diversos atrasos, dentro em breve. Apelidada, por seus desafetos, de vaga-lume, devido às sucessivas panes em sua implantação, a Usina irá enfim começar a operar.
Cleo, a esposa de Alexandre é arquiteta e tem 35 anos. Não gostaria de viver nas residências padrão oferecidas aos funcionários. Não se identifica com as esposas dos colegas de Alexandre. Nem com o clube e as ofertas de diversão da Vila, que ela desqualifica como “coisa de empreiteiro” . Desenhou uma casa, fora do alojamento, no alto de um morro próximo, para onde irão se mudar. Economizaram, pegaram algum dinheiro emprestado com parentes e a carreira de Alexandre está indo bem. Inicialmente ir para Angra não estava em seus planos. Foi um ponto de tensão no seu casamento com Alexandre. Sair do Rio de Janeiro para uma cidade que não tem oferta cultural nenhuma, um balneário, não estava nos seus planos. O movimento punk paulista, Cazuza, Renato Russo e outros ícones contemporâneos de cultura pop encontram ressonância em Cleo, consumidora de roupa, penteado e música dos anos 80.
Por outro lado... já não é mais tão jovem e encara a saída do Rio como possibilidade de reconstruir a vida. Uma nova vida. Uma prova de amor para Alexandre, com quem está casada há 7 anos. Uma chance de terem enfim o filho, quem sabe? Ela pretende começar a trabalhar projetando casas bacanas em Angra dos Reis. Mesmo com a inflação, a crise, os planos financeiros que se sucedem, tem gente com dinheiro investindo em mansões de alto luxo. Passeios de lancha e visitas às ilhas onde moram amigos ... A ausência de Alexandre é sentida. Tem crises de ciúmes por causa do gerador de vapor, que faz o marido virar noites fora de casa. A casa que ela assumiu como projeto de vida. A casa está quase pronta, chegou a hora enfim de se mudar para lá. Deixar o Rio.
Os meios de comunicação, jornais, revistas, televisão, emitem massivamente notícias sobre o movimento “Diretas Já”. Pessoas usam bottons, camisetas, faixas. No elevador, no supermercado, no bar da esquina. O fenômeno popular está em toda parte. Atravessando todas as classes sociais. O rádio do carro fala; a televisão fala; a manchete de jornal fala; sons e imagens de arquivo envolvem Julio, 40 anos, que acaba de voltar ao país.
Julio telefona para Alexandre, seu amigo há mais de 20 anos. Quando Alexandre estava na Alemanha visitou Julio no exílio em Paris. Julio morou este tempo todo na França, onde deixou a esposa e o filho de 5 anos e nunca mais veio ao país, não sabe por onde (re)começar. Liga para Alexandre, no Brasil sente-se um exilado ainda. E na França nunca se sentiu francês. Separou-se da mulher há pouco tempo e a viagem para o Brasil faz parte deste movimento de mudança pelo qual sua vida passa.
Julio trabalhava como fotógrafo em Paris. A fotografia foi entrando na sua vida assim, como um instrumento para ancorá-lo na realidade. Julio começou a fotografar a partir do desespero. Depois de sair do país e passar por experiências terríveis, como prisão, tortura e morte de companheiros, o exílio foi dureza. As fotos trouxeram uma ponte. Uma prova de existência. O instantâneo como uma forma de compartilhar a memória pessoal e a coletiva. Mas agora, de volta à terra natal, está em crise com os registros em foto e vídeo. Esta pessoa, sem território, em busca de alguma coisa, de coisa alguma. Ele telefona pra sua casa na França e fica mudo quando o filho atende o telefone. Alô? Alô?
Alexandre está feliz e emocionado em receber o amigo. Cleo fica intrigada com esta figura, que ela desconhece completamente. Julio é convidado para partir com o casal para Angra.
Após uma agradável viagem pela ensolarada Rio-Santos, os três chegam à casa que se ergue, majestosa, no alto do morro. O caseiro e sua esposa ajudam com a mudança. O caminhão chega e os carregadores colocam os móveis no lugar. Tem sempre uma relação de classe social em causa: os operários da usina, os caseiros, os carregadores da mudança, um eletricista, um encanador.
Há muita coisa por fazer na casa, Julio ajuda de alguma forma. Coisas práticas e concretas que certamente irão integrá-lo à realidade: prender uma prateleira, carregar vasos de plantas, ir no mercado comprar um peixe. O cotidiano em Angra é prosaico e gira em torno de finalizar esta casa inacabada.
Julio se instala em um quarto. A proximidade do mar acalma. Julio é um pouco surdo. As vezes é o barulho do mar o único som que absorve. Cada um dos três apresenta no corpo um sintoma. Assim dá corporeidade ao seu problema, à sua questão. Julio é meio surdo (seqüela?). Alexandre dorme demais. Cleo ri uma gargalhada sonora e nervosa.
Cleo sente algum ciúmes da amizade de Alexandre e Julio. Fica no ar uma insinuação de que os dois homens podem já ter tido uma intimidade sexual, fato que não é negado ou afirmado, o que incomoda Cleo. Apesar dela ter uma postura libertária e sem preconceitos é extremamente ciumenta e possessiva. Alexandre sabe que uma vez por ano ela sai para um sexo casual com um desconhecido. Parece um pacto silencioso que de alguma forma traz algum tipo de equilíbrio à relação dos dois. Julio fica bastante constrangido por ser testemunha de um destes episódios, quando Cleo vai para o Forró do Perequê, que acontece em um bar bem popular que reúne prostitutas, índios, operários da usina e gringos à procura de diversão barata. Ela passa a noite fora de casa.
A histeria de Cleo relaciona a traição com liberdade, fantasia e putaria. Tem matrizes estéticas em Breaking the waves (Lars von Trier), Orlando (Virgina Wolf), Eu sei que vou te amar (Arnaldo Jabor), A Dama do Lotação (Nelson Rodrigues) , e Belle de Jour (Luis Buñuel).
Julio fica surpreso vendo Cleo chegar toda despenteada na manhã seguinte. Mais surpreso ainda de perceber que Alexandre aparenta não se abalar pelo comportamento da esposa.
Os três personagens vão gradativamente ficando pouco à vontade, uns diante da loucura dos outros. A intimidade crescente revela o lado obscuro de cada um. Estão nus uns diante dos outros. O uso comum do banheiro explicita este fato.
Cada um sai da claustrofobia que o confinamento pode gerar à sua maneira. Mas no fundo está a vontade de se compreenderem, se comunicarem, se darem uns aos outros. E a impossibilidade disto tem raízes variadas. Julio tem seus fantasmas do passado, seus recalques. Alexandre tem sua obsessão pelo trabalho, passa tanto tempo fora de casa, na Usina, sempre que retorna parece uma figura deslocada. Apequenado diante da imensidão da natureza do litoral tropical ou da escala industrial da Usina, Alexandre escolhe a matemática para se relacionar com o mundo.
A solidão é imensa. Solidão de Cleo, a esposa, sozinha nesta casa que construiu e aonde falta sempre algo. Ela se exaspera, está sempre quase acabando, o final das coisas é mesmo uma etapa difícil, seja pela falta que irá deixar quando estiver concluído seja por que a conclusão parece nunca chegar. Um problema de colocação de vaso sanitário, uma janela mal encaixada.
Solidão de Julio, que voltou para um terra que não reconhece mais como sua, aonde não consegue de integrar, árida, independente de toda euforia produzida pela campanha das diretas, que ele acompanha, à distância, pelos meios de comunicação, desconfiando das imagens públicas.
Solidão de Alexandre, envolvido que vive com as questões da Usina, um projeto que também vive de adiamentos, atrasos, espera, marcado por uma expectativa enorme, não só dele, mas de uma opinião publica, pressões políticas, sociais, ambientais e financeiras de toda ordem. Cada vez que vai para a Usina tem que lidar com muitos problemas. Discussões que envolvem a comunidade indígena que habitava originalmente o local. Com os pescadores que temem efeitos da operação da Usina em suas atividades. Com colegas que estão participando da fundação de um novo partido político. Este estado de coisas produz sonhos e delírios em cada um de nossos personagens.