Saturday, 26 April 2008

O cinema sob a ótica de Lacan

FÓRUM DO CAMPO LACANIANO DO RIO DE JANEIRO

ESCOLA DE PSICANÁLISE DOS FÓRUNS DO CAMPO LACANIANO BRASIL

26 de abril

Sábado, às 15h00


Debatedores:

Daniel S. Barros - Psicanalista e Mestre em Teoria Psicanalítica pela UFRJ; e
Paola Barreto Leblanc - Cineasta e Profa da Escola de Comunicação da UFRJ.

Compartilho aqui algumas notas que nortearam minha apresentação. Complementei ainda com algumas citações de Virilio, Lacan, Barthes e Deleuze, já mencionadas aqui neste blog, não vou me repetir.

O nervo do filme está exatamente na questão da atenção, mais do que na da imagem em si.

Ao gravar nada, ou seja, ao gerar esta expectattiva de algo pela insistência do quadro vazio, grávido de uma cena, que não se concretiza, não acontece, a imagem impele a revelar algo escondido, caché, que acontece em nós observadores.

Ao buscar algo na imagem, fazendo do olhar uma varredura, uma fenda, janela para uma revelacão, transformamos esta imagem em memória, e a expectativa gerada pela imagem funciona como um ativador de sentimentos como medo e culpa pelo ocultamento daquilo que exatamente está escondido (caché)

Ao direcionar nossa atenção na imagem, não sabemos extamente o quê estamos procurando, mas somos levados a crer que há algo para procurar. Seja pela construção narrativa do cinema, que desde os seus primórdios ocupou um papel de contador de histórias (e nas história há sempre um fim e um acontecimento), somos levados a buscar no filme, pelo simples fato de ser um filme, uma história.

E é neste imperativo da procura, da teleologia. que a atenção nos guia de volta a nós mesmo, num movimento circular, que é tão somente o de espelhamento.

Diante da imagem de si, vista desde fora, o observado se faz observador e passa a se auto-observar, confrontando-se com o seu passado, seu sonho, seu medo, sua hipocrisia, seu teatro.

O estado de vigilância é o que potencializa esta ameaça da revelação, a vigilância é que cria as condições para que algo se revele, e a exposicão/visibilidade/relevo que a vigilância oferece cria condicões para a revelação - antes de revelar algo diretamente, ao deixar o observador à flor da pele, o coloca em posição de revelar algo, o despe. Assim Georges fica nu diante da imagem.

Mas o filme ao memo tempo se abre completamente para outras possíveis leituras. Não há certeza, só dúvidas. Muitas já foram as análises sobre a indecidibilidade da imagem neste filme. Ao invés de funcionar como um índice de verdade, a imagem é um índice de dúvida. Se há o “isto foi” evocado por Roland Barthes, o valor da imagem como prova, esta imagem é um indice de incerteza para nós espectadores – o que vejo é o que está contecendo ? são as imagens vividas por Georges em tempo real ou são as imagens de si gravada que ele assiste? Mas e se a imagem é o próprio ponto de vista de George? Como quando ela vai à casa de Majid? E quando seu ponto-de-vista é identificado com o ponto de vista da camera? Ou quando a imagem é seu sonho, sua lembrança, seu delírio? E se esta imagem, que fomos levados a crer que vinha de fora, vier na verdade deste mesmo olho que assiste e gera? Se for Georges o produtor destas imagens?

Nós, como espectadores, estamos recebendo o filme sempre com uma distância necessária e instransponível, pois não estávamos contemporâneos ao momento da filmagem.

O personagem, no entanto, vive esta duplicidade de viver a cena e assistir à cena. Estar na cena se vendo em cena ou estar em cena sendo por nós visto são duas dimensões distintas de um espelhamento que pode ir ao infinito – eis a imagem cristal deleuziana, para além da imagem-movimento e da imagem-tempo. Imagem em complicacio. Dobrada sobre si. Prismando.
As fronteiras entre sonho, realidade, lembrança e videotape se tornam indiscerníveis. O "espaço cinematográfico”, o espaço da imagem, é entendido como espaço da memória.

Algo com o que joga muito a arte contenporânea, com a interação no sentido da imagem ao vivo, do tempo real, do espectador-ator da performance. Mas isto é outro ponto.

Quem está observando? Todos estão vendo e sendo vistos.
O filme coloca todos na condição de observadores e observados. Espectador, diretor, personagem.
Filme como espetaculo voyeristico como Janela indsicreta.

O filme começa e termina com um plano fixo, impessoal, um ponto de vista sem ponto de vista, supostamente o olhar vigilante e automático de uma camera de vigilância, mas porque está gravando? A pergunta maior, mais importante do que quem grava é : por que grava? Mais do que quem está olhando, é o que há para ser visto? O olhar assombra o visível.


1 comment:

Anonymous said...

Il semble que vous soyez un expert dans ce domaine, vos remarques sont tres interessantes, merci.

- Daniel