A experimentação do artista Ricardo Basbaum com câmeras em circuito fechado, instaladas no saguão do Cinearte Uff, se aproxima de alguma forma do que pretendo criar no Odeon. (Com a diferença de que no meu caso as imagens irão direto para a tela do cinema.)
Esta obra faz parte da série sistema-cinema, iniciada em 2002 e apresentada hoje no ciclo de conferências sobre videovigilância no CCBB.
Ricardo Basbaum levou para a 25a Bienal o projeto “Transatravessamento”, que incorpora diversas experiências realizadas pelo artista nos últimos anos. Trata-se de uma grande estrutura em ferro pintado (medindo 12,00 x 9,00 x 2,40 m) com paredes de tela de arame galvanizado, na forma de um corredor com duas salas e quatro portas, contendo uma série de elementos internos. O público é convidado a atravessar a estrutura e interagir com os vários elementos e situações apresentadas.
A estrutura apresenta uma combinação de aspectos escultóricos e arquitetônicos, que oferece espaços para a circulação do público em seu interior. A presença do espectador é visível a partir do lado de fora, devido à semi-transparência das paredes: o visitante é incorporado pela estrutura como um de seus elementos constitutivos. Sem a presença do público, a estrutura repousa em uma espécie de inércia latente.
Em “Transatravessamento”, o espectador é convidado a combinar fruição estética e esforço físico: para atravessar a estrutura é preciso suplantar quatro portas, de diferentes tamanhos; existe ainda um espaço de jogo, com a presença de bolas que devem ser chutadas na direção de um desenho em forma de ‘alvo’; em outra sala, um conjunto de almofadas permite ao espectador deitar-se para assitir a um vídeo do artista, envolvendo ações e jogos. O atravessamento transversal é ainda complementado por um diagrama (desenho na forma de um mapa de relações, sobre fundo monocromático) – espécie de superfície que registra o processo de vivenciar a experiência que está sendo realizada. Além disso, dois monitores P/B recebem a imagem de oito câmeras de circuito-fechado, espalhadas pela própria estrutura, permitindo que se tenha uma experiência do espaço através da imagem eletrônica, combinada ao corpo sensível.
“Transatravessamento” constrói um modelo de sistema sensível em tempo real, em que o espectador defronta-se com o ‘aqui e agora’ da experiência e das ações que realiza. A estrutura atua como um ‘desacelerador’ que projeta o público para fora, transformado sob o impacto das situações em que se vê envolvido.
Em psiu-ei-oi-olá-não, ao menos quatro situações serão criadas, compondo a experiência de visita à instalação: (1) nas paredes, uma série de textos provoca o visitante; (2) na sala de entrada, haverá um local de conversa e diálogo, instalado sobre um desenho colado no chão; (3) distribuídas pelas duas salas, cinco estruturas de metal com a altura de 20cm atravessam o espaço em pontos determinados: estas estruturas intervêm de modo mínimo, e têm como principal objetivo criar obstáculos à caminhada dos visitantes, produzindo assim um repertório de movimentos corporais compulsórios; (4) as câmeras instaladas na galeria proporcionam diversos enquadramentos do espaço, permitindo ao visitante o acesso a mais uma camada de mediação perceptiva, combinando o olhar direto com o olhar através das câmeras e seu ritmo sequencial. Através destas câmeras, serão realizadas gravações do espaço e da visitação do público, assim como de outras atividades. No final da exposição será apresentado um vídeo editado pelo artista a partir destas imagens.Ao visitar a exposição, atravessar as estruturas de metal, ler os textos e perceber o espaço através do enquandramento e ritmo das câmeras, o visitante é submetido a uma experiência de percepção intensiva, que combina diversas camadas de envolvimento e disponibilidade sensorial e corporal.
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