Monday, 7 January 2008

meu nome não é mauro lima

fui ver o novo filme estrelado pelo selton mello numa lotada sessão da meia noite de sábado.
antes de mais nada, o óbvio ululante:
selton mello é um ator genial.
o elenco, dos pequenos ao grandes papéis, é brilhante.
mauro lima, técnico forjado pelo mercado publicitário e de videoclipes, é um diretor muito competente, e como co-roteirista, juntamente com (a produtora) mariza leão, escreveu bons diálogos e conseguiu fluidez narrativa com cara de moderninha.
a equipe técnica é toda eficiente, produzindo um filme completamente inserido nos padrões internacionais esperados do cinema industrial narrativo. boa fotografia e câmera, bons cenários e figurinos, bom som direto e trilha sonora, produção bem cuidada e finalização esmerada.
agora:
impressionante como o filme é careta, a despeito do universo de sexo drogas e rock'n'roll o qual retrata.
a câmera lenta, figura de linguagem que gus van sant e jean cocteau empregam pra reinventar o cinema, é neste filme recurso sem força alguma, utilizado pra macaquear códigos gastos, estereótipos, tiques, cena de novela ou comercial de TV. o filme vira produto.
nada no filme tem frescor. parece uma embalagem nova para uma representação déjà vu. o filme vai indo, com tudo em seu lugar: sem lugar para ambiguidades, dúvidas, espaço vazios ou frestas onde possamos nos projetar. o filme se oferece como um bloco, e a única via de acesso é a identificação com o protagonista, magistralmente interpretado. grudamos nele, o pobre rapaz desencaminhado, mártir glorificado, que nos faz rir e chorar.
enfim, como disse a marcia derraik, quem não faz leva.
e sim, é bom que hajam filmes brasileiros sendo bem realizados, ainda que este bem esteja colocado unicamente no que o fazer filmes tem de precisão e técnica. agora, ocupar as salas com obras que abram outras portas em nossos corações é mentes, isto é outra história, que eu, modestamente, espero poder contar em 2008.

4 comments:

paoleb said...

Um palimpsesto é uma página manuscrita, pergaminho ou livro cujo conteúdo foi apagado (mediante lavagem ou raspagem) e escrito novamente, normalmente nas linhas intermediárias ao primeiro texto ou em sentido transversal.

O termo deriva do grego antigo παλίμψηστος, ou seja, "riscar de novo" (πάλιν, "de novo" e ψάω, "riscar").

paoleb said...

um "produto" não é simplesmente o resultado do processo de produção; é apenas um de seus acidentes possíveis, e guarda em si o germe do que este processo pode germinar, ou seja, ele é apenas uma dentre as N (inumeraveia) potencias que o processo engendra.
isto equivale a dizer que um filme vale não como produto fechado, mas como "totalidade aberta".

Anonymous said...

caraca gostei do que eu escrevi aqui! hehehe a lhooca que dialoga consigo mesma!

Anonymous said...

Então,
Eu adorei seus pós-comentátios...rs. No mais, acho Selton melo ótimo, mas não acho o filme bem realizado. Acho os atores mal dirigidos, salvo o selton que se auto-dirige, cria diálogos (e não são poucos), tem um carisma impressionante e carrega o filme nas costas. Acho a fotografia bem ruim, tanto em luz quanto em relação a câmera e , como vc bem colocou, o uso de câmeras lentas e outros artifícios (alguns planos seqüencias copmo o da morte do pai com uma grua horrenda fariam Bazin se retorcer na cova.)totalmente plásticos , deslocados da narrativa. E olha, eu tb entrei na narrativa, mas só por causa do Selton. A trilha me fazia lembrar da novela das 8, cada nícleo com seu ritmo...tããão clichê. Acho que o filme é sim, técnicamente correto, mas isso , há tempos , nossos filmes já são considerados; o que me espanta é a distância entre técnica e narrativa , que a direção é incapaz de aproximar, de orquestrar.