Friday, 12 October 2007
primeiras impressões comPATBilidade
O trabalho da artista PatB é um convite a pensar a compatibilidade - entre os corpos e as imagens dos corpos; entre o espectador/interator e a obra; entre o eu e o outro...
Partindo de uma situação aonde oferece o próprio corpo, inerte, como matéria prima para um jogo em que cada espectador, individualmente, dispõe de três minutos para modificar a “performer”, PatB radicaliza a noção de arte interativa. Aos elementos do guarda roupa em exposição o visitante também pode acrescentar acessórios próprios para criar sua intervenção direta no corpo da artista. O trabalho se apresenta como um inocente convite para “brincar de boneca”. Não há objeto acabado. Ao colocar-se a si mesma como obra a ser produzida a partir da manipulação do espectador /interator, ao vivo, sem mediações, PatB lida diretamente com questões do corpo em sua materialidade e a condição de risco que aí se implica (houve quem pegasse uma tesoura para cortar tufos de cabelo da artista), bem como questões da presença e ausência, dos padrões de beleza e comportamento, e toda uma cadeia de significações tão ricas quanto díspares. Não é por acaso que o termo compatibilidade possua também uma significação matemática - designa a propriedade de um sistema de equações que admite pelo menos uma solução - ainda mais quando se sabe que a matemática é precisamente um dos campos de interesse da artista.
PatB nos oferece um corpo que não está inscrito nos códigos de consumo do desejável. Este corpo em evidência, fora dos padrões do corpo exposto que se dá a ver em público, é um corpo real, íntimo, com uma idade, histórias, estrias, marcas, tempo. Um corpo grande, pesado, carnudo, que requer esforço físico para manusear - o preparo físico da artista é fundamental para que o dispositivo “boneca” se efetue. Mas ao mesmo tempo é um corpo dócil, débil, como a criatura do Dr. Frankenstein. Quando terminamos nossa intervenção e deixamos a boneca entregue de volta à inércia, o que fica é um rastro nosso. A criatura diz sempre de seu criador.
Quando estamos com a boneca nas mãos, sentimos o quanto o estar junto a alguém tem deste jogo de fazer do outro um manequim. Manequim, tem origem no vocábulo holandês manneken, que quer dizer ‘homenzinho’ e segundo o verbete do Aurélio possui os seguintes significados:
1.boneco que representa homem ou mulher e é usado para estudos artísticos ou científicos, ou para trabalhos de costureira e alfaiate, ou, ainda, para a exposição de roupas em lojas, vitrines, etc. 2. Fig. Pessoa sem vontade própria, autômato, fantoche. 3. Medida para roupas feitas: Ela veste manequim 42.
O jogo de estátua proposto por PatB encerra todas estas idéias e dialoga com o surrealismo de Luis Buñuel e a poesia de Jean Cocteau. A problematização de sua própria persona relaciona-se ainda com experiências de artistas como Cindy Sherman e Sophie Calle, trazendo, como Marina Abramovic, novas contribuições à questão do corpo na arte contemporânea.
Ao nos permitirmos modelar seu corpo, dar uma forma a este corpo, vesti-lo, transvesti-lo, travesti-lo, enfim, revesti-lo com nossos próprios sonhos, pulsões e desejos, criamos uma extensão de nós mesmos. A maneira como nos apropriamos de sua carne, como usamos o nosso próprio corpo para tocá-la , diz do que buscamos no outro, de como cuidamos do outro. Um ato ao mesmo tempo maternal e sexual.
Não por acaso pegar PatB nos braços nos confronta com a idéia da entrega absoluta do ato de amor, fazendo com que reflitamos sobre o que é este dar-se à fantasia de outrem.
Pegar um corpo - seja de filho, de mãe, de amante, de subordinado - amado, odiado, desejado, repugnante. Como lidar com este corpo, este cheiro, esta carne.
Quem fica nu na cena não é PatB; somos nós, diante de nós mesmos. PatB reflete tal qual o espelho de Kierkegaard a subjetividade que desejamos impingir-lhe.
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1 comment:
depois do abraço da Amma o RJ recebe o abraço de PatB!
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