Estou interessada em fazer a aproximação dos personagens a partir de uma organização poética dos acontecimentos e da narrativa. Criar um fluxo de cenas que não necessariamente obedeçam a um encadeamento de causa e conseqüência, mas a associações afetivas, imagéticas, livres. Assim pretendo criar um dramaturgia liberta de codificações e estereótipos, ainda que trabalhando com a velha figura do triângulo, eis o desafio. Trabalhar no terreno da ambigüidade, usando a serviço do conflito entre os personagens o conflito histórico, o hiato entre 1984 e hoje. Sem certezas, sem respostas, o encontro entre os três deixa pontas de história no ar que nos ajudam a pensar caminhos possíveis para este país sul-americano.
O movimento de massas “Diretas Já” não é um pano de fundo, as questões sociais, políticas, de época, não estão ali para “emoldurar” os personagens, mas para constituí-los. Eles são aquilo que vivem. Um caráter de inacabamento, de fragmento será característica dos diálogos. A casa inacabada que vai se fazendo ao longo do filme não é uma metáfora simplesmente. É uma realidade em que os três personagens estão imersos, e espelha a condição de vida e encontro possível entre eles. A vida não é dada organizadamente. As conversas não são dadas organizadamente. Os acontecimentos fluem em direções diversas, divergentes, cheios de potências narrativas que não precisam, necessariamente, convergir. Hoje, olhando para o passado, contaremos a historia deles assim. A grandeza da natureza e da indústria contrasta com a intimidade, o cotidiano e a escala humana da casa. Contrastes, confrontos, conflitos.
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